Os desafios da segurança pública levaram o governo de Santa Catarina a abrir exceções no cancelamento de concursos públicos. O crescimento das ações de estelionato, a disputa de facções no Norte-Nordeste do Estado e as carências no efetivo para combater a criminalidade motivaram o delegado geral da Polícia Civil, Ulisses Gabriel, a solicitar mais profissionais.
Conforme o delegado, a unificação dos atos nas diferentes áreas de investigação possibilitou a redução dos índices de homicídio no Estado, em especial na Capital, mas ainda há muito trabalho pela frente.
No primeiro quadrimestre do ano, Joinville, por exemplo, teve 23 assassinatos, incluindo duas chacinas, neste ano, contra nove no mesmo período em 2022, ou seja, um aumento de 155%.
Em todo Estado, em março, os homicídios chegaram a subir 18% em relação a 2022. Agora, o crescimento está na casa dos 2%.
“O maior problema é efetivo. O governo vai chamar os aprovados da Polícia Científica, também um edital para 50 oficiais e 500 policiais militares e estamos construindo concurso para Polícia Civil”, informa Ulisses.“A nossa meta é a recomposição constante do efetivo, investimentos em tecnologia e o monitoramento da produtividade. Estamos olhando mais de perto os homicídios, estelionatos e crimes praticados em ambiente escolar”, completa.
A necessidade, na Polícia Civil, é de 30 psicólogos e 30 delegados. Secretário de Estado da Fazenda, Cleverson Siewert diz que a Secretaria de Administração está levantando as necessidades do funcionalismo público.“O que temos de prático é que o governador se comprometeu com a PM, mas para chamar em julho do ano que vem, e as demais áreas serão analisadas pontualmente”, resume.
Chamada de 465 concursados no sistema prisional
Apesar dos índices preocupantes em determinadas regiões, o governador Jorginho Mello avalia de forma positiva a segurança. Lembra que no primeiro quadrimestre do ano houve queda em crimes como feminicídio, latrocínio e roubo em relação a 2022. Mas furtos e lesões corporais seguidas de morte aumentaram.
“Estamos reforçando todas as forças policiais. Estamos chamando para o sistema prisional 465 concursados, tentando resolver a questão dos ACTs (contratos temporários) no sistema prisional e vamos colocar policiais aposentados nas escolas. Temos 600 treinados para distribuir e o compromisso é cumprir esta meta em 60 dias. Estamos pensando em chamar bombeiros e Polícia Civil, mas ainda não está decidido”, afirma Jorginho.Enquanto os profissionais não chegam, a polícia trabalha com o que tem. O delegado Ulisses monitora diariamente o boletim de segurança pública e perícia do Estado e cobra os delegados nas regiões.
Fazendo esse acompanhamento e identificando dificuldades, em especial na Grande Florianópolis e região Norte-Nordeste, espera controlar os casos de homicídios.Na Capital, segundo ele graças à intensificação dos trabalhos de delegacias de Combate a Crimes Organizados, Repressão a Roubos, Homicídios e Combate a Drogas houve a expressiva redução. “Essas quatro especializadas receberam viaturas e computadores e fizemos mudanças que ensejaram essa diminuição”.
Guerra de facções domina maior cidade
O caso de Joinville é um pouco mais complexo. A cidade puxa os índices de homicídio por causa de uma guerra facções criminosas – o PGC (Primeiro Grupo Catarinense) e PCC (Primeiro Comando da Capital).“Tivemos em Joinville, 23 homicídios [até abril]. Só que num único dia, no começo do ano, foram sete”, ressalta Ulisses analisando o boletim e falando sobre a chacina contra um grupo de trabalhadores paranaenses.
Grande Florianópolis tem situação controlada, mas Norte do Estado preocupa – Foto: Leo Munhoz/NDGrande Florianópolis tem situação controlada, mas Norte do Estado preocupa – Foto: Leo Munhoz/ND
“Joinville vem destoando. Reportei isso ao secretário da Segurança e vamos realizar, nesta semana, reunião com as forças de segurança para atuarmos de forma mais intensa na prevenção e repressão, identificando executores e mandantes”, frisa Ulisses.
“Vamos para Joinville, com o governador, nos próximos dias, entregar computadores e equipamentos para reforçar o combate ao crime lá”, completa.Feminicídios, latrocínios e roubos em queda
O delegado celebra a redução de diversos crimes no Estado, como feminicídios, latrocínios e roubos. Este último, segundo ele, caiu por causa do aumento das prisões.“Temos, em relação ao ano passado, 18% mais prisões cumpridas. Outro índice que acompanhamos é o cumprimento de mandados de busca e apreensão, que aumentou 42%”.
A preocupação agora é com os crimes de estelionato, que têm aumentado. Para reverter o cenário, a Polícia Civil está investindo no setor de inteligência, na divisão de defraudações da Deic (Diretoria Estadual de Investigações Criminais).“Quem pratica estelionato no meio eletrônico são organizações criminosas. Vamos atuar, agora, mais no atacado. Quem pratica golpe de Pix não faz só uma vez, mas 30, 40, 50. Vamos melhorar a estrutura da inteligência para coibir esse crime cometido principalmente por quadrilhas do Rio Grande do Sul e São Paulo.”
Na Grande Florianópolis, o foco é na integração de delegacias especializadas. Também será criado, na Capital, um departamento de investigações criminais.Estatísticas dos quatro primeiros meses do ano:
Roubo – Queda de 22%2022 – 3.115
2023 – 2.428
Furto – Alta de 3,5%
2022 – 37.280
2023 – 38.613
Homicídio – Alta de 2,8%
2022 – 208
2023 – 214
Feminicídio – Queda de 12%
2022 – 25
2023 – 22
Latrocínio – Queda de 60%
2022 – 5
2023 – 2
Lesão corporal seguida de morte – Alta de 175%
2022 – 4
2023 – 11
Fonte: Sistema integrado de Segurança Pública.