Operação Entre Lobos - 22/07/2025 13:43

Um dos líderes de esquema de fraudes milionárias contra idosos é advogado em Chapecó

Operação Entre Lobos, do Gaeco, prendeu 13 suspeitos de integrar uma organização criminosa que aplicava golpes contra idosos em cinco estados; entre os presos estão seis advogados
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Gaeco detalhou a operação Entre Lobos, para desarticular uma organização criminosa que aplicava golpes contra idosos; advogados foram presos durante a operação – Foto: Angela Bueno/ND

Um dos principais líderes do esquema criminoso contra idosos que lesou cerca de 215 vítimas em todo o Brasil com desvios milionários é um advogado de Chapecó, no Oeste de Santa Catarina. A informação foi confirmada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas).

O nome do profissional não foi revelado, mas assim como ele, outros cinco advogados e um presidente de sindicato estão entre os 13 presos na operação Entre Lobos, deflagrada na manhã desta terça-feira (22) em Santa Catarina e outros quatro estados.

Operação “Entre Lobos” cumpre mandados em investigação sobre estelionato contra idosos; seis advogados foram presos. – Foto: Gaeco/ND

A ação tem o objetivo de desarticular uma organização criminosa que aplicava golpes em idosos, aposentados e pessoas vulneráveis.

Tudo começou quando algumas vítimas procuraram a Promotoria de Justiça de Modelo, no Oeste de Santa Catarina, para relatar os prejuízos que tinham sofrido. A partir daí, o Gaeco identificou dois escritórios de advocacia com nomes de fachada, mais de 200 vítimas e mais de R$ 30 milhões bloqueados pela Justiça.

Conforme o promotor de Justiça e coordenador do Gaeco em São Miguel do Oeste, Edisson de Melo Menezes, foram cumpridos 13 mandados de prisão, entre preventivos e temporários.

Pessoas presas na operação Entre Lobos do Gaeco

- Duas em Chapecó, Oeste de SC;
- Duas em Salvador, na Bahia;
- Uma em Xanxerê, Oeste de SC;
- Uma em Xaxim, Oeste de SC;
- Uma em Pinhalzinho, Oeste de SC;
- Uma em Itapiranga, no Extremo-Oeste de SC;
- Uma em Planalto, no RS;
- Uma em Irineópolis, no Planalto Norte catarinense;
- Três em Fortaleza, no Ceará;

Seis advogados foram presos

O promotor detalha que um dos líderes da organização foi preso em Chapecó. Já em Salvador, foi preso um casal de Chapecó — a mulher é advogada — e ambos estavam sendo monitorados pelo Gaeco.

Entre as três prisões realizadas em Fortaleza, estão duas advogadas e o suspeito de ser o mentor da organização, responsável por toda a estratégia, gestão e atuação digital do grupo.

Do que eles são suspeitos?

Conforme o coordenador estadual do Gaeco, Wilson Paulo Mendonça Neto, os presos são suspeitos de envolvimento em uma organização criminosa que operava um esquema interestadual de estelionato contra pessoas idosas.

Além de desarticular o esquema, o Gaeco busca punir os responsáveis e ressarcir as vítimas afetadas pelo golpe.

Mendonça também detalhou a operação, mencionando que os criminosos tinham ramificações em pelo menos quatro estados, além de Santa Catarina.

A organização atua desde o final de 2022, e o golpe começava quando os captadores buscavam as vítimas em casa, oferecendo um serviço de revisão de contratos bancários.

Após assinarem os documentos, as vítimas eram procuradas apenas quando o processo judicial já estava perto da sentença ou em fase final.

Em muitos casos identificados pela investigação, as sentenças já haviam sido proferidas e o ganho judicial já existia. Mesmo assim, os golpistas voltavam a procurar as vítimas, sem fornecer qualquer informação sobre o processo ou os valores a que tinham direito.

Aproveitando a vulnerabilidade e o desconhecimento das vítimas, os criminosos ofereciam valores baixos, entre R$ 1,5 mil e R$ 3 mil, em troca da cessão do crédito, que muitas vezes ultrapassava os R$ 100 mil.

Entenda como funcionava o esquema de golpes da organização criminosa; seis advogados foram presos. – Foto: Gaeco

Vítimas recebiam R$ 2 mil por créditos de mais de R$ 100 mil

A investigação mostra a desproporção nos valores pagos:

- Uma vítima com crédito de R$ 146 mil recebeu R$ 2,5 mil (1,71%);

- Outra, com direito a R$ 117 mil, recebeu também R$ 2,5 mil (2,12%);

- Em um terceiro caso, a vítima com crédito de R$ 115 mil recebeu apenas R$ 2 mil (1,73%).

Então, o lucro era dividido entre as pessoas que faziam parte da organização criminosa.

“Eles [suspeitos] foram bastante covardes contra pessoas idosas, sem recursos financeiros e sem recursos para buscar informações sobre o andamento do processo”, detalhou o promotor.

Veículos apreendidos e contas bloqueadas

Além das prisões, 25 veículos foram apreendidos e 16 contas bancárias bloqueadas, com uma estimativa de cerca de R$ 30 milhões bloqueados por meio da determinação da Justiça.

As 215 vítimas já identificadas somam mais de R$ 6 milhões desviados em benefício da organização criminosa. E esse número pode crescer, conforme o promotor.

Um dos suspeitos conseguiu enganar mil pessoas

Um exemplo disso é que, segundo as investigações, apenas um dos captadores, que era a pessoa responsável por abordar as vítimas, conseguiu enganar mil pessoas em apenas um ano. Ele foi preso durante a operação.

As empresas envolvidas, segundo o Ministério Público, são a Ativa Precatórios, com sede em Pinhalzinho, no Oeste catarinense e a BrasilMais Precatórios, com sede em Fortaleza, no Ceará.

No entanto, os alvarás judiciais eram expedidos diretamente em nome do escritório de advocacia do chefe da organização, conforme apontam as apurações. “Todas as empresas foram exclusivamente criadas para a prática criminosa”, aponta Menezes.

O ND Mais não conseguiu localizar a defesa das empresas citadas até a publicação da reportagem, mas o espaço segue aberto para manifestação.

Pessoas com influência na comunidade

A organização usava diferentes formas para enganar as vítimas, e isso chamou a atenção da equipe de investigação. No início, eles contavam com captadores, pessoas físicas com influência na comunidade, que sabiam exatamente quem abordar.

Um exemplo é um dos presos, que era presidente de um sindicato. Ele tinha acesso fácil a moradores do interior, principalmente idosos e aposentados. Só ele, segundo as investigações, captou mil processos em um ano.

Organização funcionava como uma grande empresa

O promotor detalha que a organização funcionava como uma grande empresa, onde cada pessoa e empresa tinha um papel específico. Tudo era bem coordenado. Havia setor financeiro, setor político, empresas de fachada, captação de vítimas, cada área com uma função clara.

Um dos advogados presos, por exemplo, era o dono formal da empresa de fachada em Pinhalzinho. Ele também era o responsável pelo setor financeiro de toda a organização criminosa. Trabalhava dentro do escritório do grupo e cuidava de toda a movimentação de dinheiro, inclusive realizando saques de grandes quantias todos os meses.

Mais de 130 agentes do Gaeco de SC participam da ação, com apoio de promotores de Justiça, da Polícia Militar de Santa Catarina e dos núcleos do Gaeco nos outros estados. Todos os mandados foram cumpridos com acompanhamento da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), em respeito às prerrogativas da advocacia.

Lavagem de dinheiro

Durante a investigação, foram encontradas planilhas de controle financeiro da organização criminosa, detalhando divisão de lucros, comissões, investimentos e despesas.

Também foram localizados registros de procurações e substabelecimentos que revelam como o grupo manipulava a representação legal das vítimas.

A apuração aponta ainda indícios do crime de patrocínio infiel, ou seja, quando advogados atuam contra os interesses de seus próprios clientes. Isso teria ocorrido com integrantes da organização que se apresentavam como representantes legais das vítimas, mas operavam para beneficiar as empresas de fachada ligadas ao esquema.

Orientação às vítimas

Quem se reconhecer como vítima do esquema deve procurar a Delegacia de Polícia Civil mais próxima para registrar um boletim de ocorrência. O caso será encaminhado ao Ministério Público.

Também é possível entrar em contato com:


- Promotoria de Justiça de Modelo (SC) – WhatsApp: (49) 99200-7462

- Ouvidoria do MPSC – E-mail: [email protected] | Telefones: 127 ou (48) 3229-9306 (das 9h30 às 19h)

Fonte: ND+
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