A venda de um dispositivo eletrônico, que a Anvisa considera tão prejudicial à saúde quanto o cigarro comum, se multiplicou no Brasil. O produto é facilmente encontrado na porta de bares ou casas de shows.
A última Pesquisa Nacional de Saúde Escolar, feita em 2019 pelo IBGE, já mostrava uma situação preocupante: os jovens são os principais consumidores do cigarro eletrônico. O estudo revelou que quase 17% dos estudantes de 13 a 17 anos haviam experimentado o produto, que pode viciar de forma mais rápida que o cigarro convencional.
Em 2019, a Receita Federal apreendeu mais de R$ 2 milhões da mercadoria ilegal. Em 2020, houve um pequeno aumento. Mas, em 2021, foi registrado um salto de quase 1200% nas apreensões. O valor seguiu alto em 2022.
A venda, importação e propaganda de cigarros eletrônicos estão proibidas no Brasil desde 2009 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Mas o produto contrabandeado chega sem parar.
“A Receita vem aprimorando, principalmente, a gestão de risco. Você tem o serviço de inteligência a favor, as informações são confrontadas e, detectada alguma irregularidade, evidente que a receita na fiscalização vai lá e faz a autuação”, afirma Tsuyoshi Ueda, auditor fiscal da Receita Federal.
A indústria de cigarro diz que a regulamentação é a melhor forma de combater o contrabando dos eletrônicos e reduzir o consumo do cigarro convencional.
Mas a Organização Mundial de Saúde diz que não há evidências científicas sobre a utilização de vapes, que são os cigarros eletrônicos, como auxílio para o fim do tabagismo.
A Sociedade Brasileira de Pneumologia alerta que, além da nicotina, o produto tem mais de 2 mil substâncias químicas tão nocivas quanto as encontradas nos cigarros de papel. O coordenador da Comissão Científica de Tabagismo da instituição explica que no cigarro eletrônico também há muitas substâncias cancerígenas.
“O cigarro eletrônico tem riscos próprios, como inalação de metais que vazam da bateria, por exemplo, alumínio, níquel, zinco... Uma série de metais. Esses jovens ficam expostos a várias formas de utilização de nicotina, doses elevadíssimas e, portanto, maior dependência” explica o pneumologista Paulo Corrêa.