Entre terça, 20, e quarta-feira, 21, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne para decidir os rumos da taxa de juros do país. A Selic se encontra em 13,75% ao ano, após ter sido mantida por seis vezes consecutivas. Este é o maior patamar desde 2016. Com avanço da novo marco fiscal no Congresso Nacional e resultados positivos na inflação do país, o governo espera que um processo de desaceleração dos juros possa ser iniciado. Desde o início da sua gestão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem pressionado a autoridade monetária para baixar o patamar da Selic, mas encontra resistência do BC. Contudo, a esperança dos governistas é que a autoridade monetária veja com bons olhos os avanços econômicos conquistados desde a última reunião, como melhora nas perspectivas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e na avaliação de risco de investimento do país. Contudo, segundo especialistas ouvidos pela Jovem Pan, ainda não será na reunião de junho que a autoridade monetária irá reduzir a taxa de juros do Brasil. Mesma com o consenso sobre a manutenção da taxa juros, os analistas observam que é importante estar atento aos direcionamentos da ata, que podem indicar quando deve começar o processo de queda da Selic.
Apesar dos evidentes sinais de desaceleração da inflação, André Gardalho, consultor econômico da fiintech de câmbio Remessa Online, acredita que o Banco Central deve insistir na manutenção da taxa com o argumento de que é necessário ancorar as expectativas para prazos mais longos. “Nós já estamos contemplando uma deflação para o mês de junho, e a variação de maio foi surpreendentemente abaixo das expectativas do mercado. Além disso, tivemos uma baixa 1,6% no setor de serviços no mês que abril, sendo que é o maior segmento da economia brasileira, responder por 70% do PIB. A economia está desacelerando, e a inflação emite sinas cada vez mais claros e inequívocos de desaceleração. E os Índices Gerais de Preços mostram que este processo de desinflação pode ser bastante sustentável. Apesar de tudo isso, o Banco Central deve manter a taxa de juros inalterada na próxima reunião com o argumento de que, além da desinflação, também é necessário ancorar as expectativas para prazos mais longos. Com sorte, talvez tenhamos no comunicado e na ata alguma indicação de quando o processo de corte de juros pode começar. A expectativa é que isso aconteça em agosto.”
Economista e associado do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), Carlos Caixeta pondera que o Banco Central deve seguir sua política ortodoxa, ainda mais porque não houve mudanças efetivas na composição do comitê que pudesse trazer novas perspectivas. O ex-secretário executivo do Ministério da Fazenda Gabriel Galípolo foi indicado para assumir a diretoria de política monetária do órgão, mas ainda não passou pela sabatina do Senado Federal, etapa essencial para assumir o cargo. “Também não houve nenhuma mudança efetiva em nenhuma meta macroeconômica que rege essas discussões. O Copom continua com uma visão muito rígida e conservadora para conduzir a meta de inflação para seu centro. A maior probabilidade, cerca de 70% a 80%, é que a taxa básica de juros permaneça inalterada. Essa redução deve ser iniciada apenas no segundo semestre do ano, em agosto ou setembro, com uma queda de 0,25% ou 0,5%. O BC está sendo coerente com sua postura rígida e firme”, avalia.
Diretor da Equity S/A, Heder Bragança observa que a verdadeira batalha do Banco Central não é com o presidente Lula, mas com o próprio mercado. “O presidente do BC está fazendo um ótimo trabalho, alertando de forma técnica e metódica, como se espera. O comportamento das expectativas é um aspecto fundamental do processo inflacionário. A avaliação do mercado é de que a ata reforça a previsão de que os cortes de juros começarão no segundo semestre. Para o Bank of America, o ciclo de redução da Selic começa em agosto com queda de 0,50 ponto percentual. Em recente entrevista, Roberto Campos Neto reconheceu que o cenário é melhor, considerando números mais favoráveis para a inflação corrente, e ponderou que é preciso ver o efeito nas expectativas. A projeção para a Selic ao final de 2025 segue em 9%, mesma mediana de quatro semanas atrás. A meta de inflação é de 3,25%. Neste próximo encontro, não há grandes expectativas de mudanças. Dependerá da continuidade da melhora dos indicadores e das expectativas da população quanto a emprego, consumo, renda e serviços básicos”, indica.
CEO da Simpla Invest, Lucas Rufino complementa que o mercado já espera e até precifica que a decisão do Copom será a de manter os juros em níveis estáveis de 13,75%. Contudo, para ele, o ponto de atenção está em qual intensidade a autoridade monetária irá adotar em seu discurso. “Caso considerarmos que o primeiro corte de juros virá na reunião de agosto, já poderíamos esperar um discurso mais leve do Copom, sinalizando uma virada de ciclo.
De fato, já temos um contexto mais favorável para discutir cortes de juros. Inclusive, a inflação no mês de maio veio bem abaixo das expectativas do mercado, que também já fizeram revisões para baixo na inflação acumulada esperada para 2023. Do lado contrário, se o discurso do Banco Central continuar firme, pode ser uma indicação que o início do corte de juros vai demorar mais algumas reuniões para acontecer”, avalia.