O aumento do custo das empresas e a consequente demissão de trabalhadores é o principal argumento do setor produtivo gaúcho em defesa da derrubada do veto presidencial à desoneração da folha de pagamento.
Nesta segunda-feira (4), líderes empresariais, deputados e dirigentes de entidades que representam diferentes setores da economia se reuniram no Instituto Caldeira, em Porto Alegre, para discutir efeitos da medida e ampliar a mobilização pela derrubada da decisão do presidente Lula.
A manutenção do benefício foi aprovada por ampla margem na Câmara dos Deputados e em votação simbólica no Senado, mas acabou vetada integralmente por Lula. Com isso, o veto deve ser apreciado em sessão conjunta do Congresso até a próxima semana.
Vigente desde o governo Dilma Rousseff, a medida reduz o custo de 17 setores econômicos com a contribuição previdenciária. No entanto, se o veto de Lula for mantido, deixará de valer a partir de 2024.
Projeções mais pessimistas apontam que os cortes podem atingir quase um milhão de trabalhadores com carteira assinada.
Além da possibilidade de demissões e da ampliação da informalidade, os empresários dizem que já haviam projetado os orçamentos para 2024 considerando a manutenção do alívio na folha.
Diretor da Federação Nacional das Empresas de Informática (Fenainfo), Edgar Serrano afirmou que a manutenção do veto seria um "desastre" para o setor de tecnologia:
— O governo tem um problema de gastos, mas precisa resolver isso de outra maneira. O Brasil é o país que mais tem encargos sobre a folha. Precisamos que os parlamentares mantenham a coerência e votem pela derrubada do veto.
CEO da consultoria Meta, Telmo Costa apontou que, no período da desoneração, a geração de empregos nos setores beneficiados foi 220% maior do que nos demais segmentos:
— Na Meta, saímos de 770 empregadores para 3 mil de 2018 para cá, e não somos um ponto fora da curva.
Por sua vez, o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Haroldo Ferreira, disse que haverá um aumento generalizado no custo dos produtos sem a desoneração.
— O custo será repassado ao produto, o que diminui o consumo tanto no mercado interno quanto na exportação — ressaltou.
Articulação política
Relatora do projeto de desoneração da folha na Câmara, a deputada federal Any Ortiz (Cidadania-RS) demonstrou preocupação com a garantia de quórum na sessão em que o veto será analisado, que deve ocorrer na próxima semana.Para contrariar a decisão de Lula, são necessários votos de ao menos 257 deputados e 41 senadores. Eventuais ausências poderiam ajudar o governo.
— Não só os setores que tem a desoneração que serão impactados. O transporte vai aumentar, a proteína animal, que impacta na mesa da dona de casa, o setor calçadista, as confecções... haverá aumento da inflação se o veto for mantido — projetou a deputada.
Any salienta que, além de empresários, sindicatos de trabalhadores têm pressionado o Congresso pela derrubada do veto.
Além da relatora, o deputado federal Lucas Redecker (PSDB) esteve presente no encontro.
Entenda o benefício
A política de desoneração da folha foi criada em 2011, no governo de Dilma Rousseff, como forma de cobrar menos imposto de empresas de setores específicos, considerados os maiores empregadores.A medida substitui a contribuição previdenciária patronal de 20%, incidente sobre a folha de salários, por alíquotas de 1% a 4,5% sobre a receita bruta, a depender do setor produtivo. Na prática, reduz a carga da contribuição previdenciária devida pelas empresas.
Atualmente, a lei prevê que o benefício dure até o final de 2023. Um projeto que prorrogava a desoneração até 2027 foi aprovado na Câmara e no Senado, mas foi vetado pelo presidente Lula
No veto, Lula alegou que a proposta é inconstitucional e contraria o interesse público por criar renúncia fiscal sem apresentar impactos financeiros e formas de compensação
Setores beneficiados pela desoneração da folha articulam a derrubada do veto no Congresso. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, disse que o veto deveria ser apreciado nesta semana, mas a tendência é de que fique para a próxima
A renúncia fiscal do benefício é calculada em R$ 9,4 bilhões ao ano. Para compensar a perda de receita, haveria prorrogação do aumento de um ponto percentual na alíquota da Cofins-Importação, cuja arrecadação estimada é de R$ 2,4 bilhões.
Levantamento de GZH em abril apontou que que os setores contemplados respondiam por 8,11 milhões de vagas com carteira no país e quase 711 mil no RS.
Além de beneficiar setores econômicos, projeto também reduz de 20% para 8% a alíquota previdenciária paga por municípios com menos de 142 mil habitantes
Os 17 setores econômicos desonerados
Confecção e vestuárioCalçados
Construção civil
Call center
Comunicação
Empresa de construção e obras de infraestrutura
Couro
Fabricação de veículos e carroçarias
Máquinas e equipamentos
Proteína animal
Têxtil
Tecnologia da informação (TI)
Tecnologia de comunicação (TIC)
Projeto de circuitos integrados
Transporte metroferroviário de passageiros
Transporte rodoviário coletivo
Transporte rodoviário de cargas