Ao menos 30% dos moradores do Rio Grande do Sul consideram mudar de casa, de acordo com um estudo realizado pela startup Loft, em parceria com a Offerwise. Conforme a pesquisa, 80% dos respondentes afirmaram que os eventos climáticos extremos afetaram a própria residência. As informações são do g1.
A pesquisa foi realizada entre os dias 4 e 7 de junho, com mil adultos, após as enchentes e temporais que atingiram o estado gaúcho e deixaram 177 mortos. Para 41% dos entrevistados, as tragédias tiveram impacto no desejo de se mudar.
— Em todos os recortes que fizemos, incluindo classe social, mais da metade dos brasileiros afirmaram já terem sentido o efeito de algum evento climático extremo — afirma Fábio Takahashi, gerente de dados da Loft ao g1.
Para Takahashi, o percentual de moradores que não consideram se mudar também chama atenção por ser um número maior do que o registrado em estados que não foram atingidos por enchentes e inundações há pouco tempo.
Há duas explicações possíveis que podem justificar a permanência. A primeira está no sentimento de que o estado irá se reerguer após a tragédia. Em segundo lugar está a classe A, que é maioria e demonstrou pouco interesse em deixar a residência no estado gaúcho.
“Não vamos mais voltar”
Camila Portela morava em Venâncio Aires, na região do Vale do Rio Pardo, que fica a 133 km de Porto Alegre. Ela se mudou imediatamente e considera não retornar à residência.— A gente não pensou nem duas vezes, a gente se olhou mesmo e disse assim: ó, não vamos mais voltar, não vamos mais voltar — revela.
No município, cinco pessoas morreram devido às cheias. Além disso, uma morreu de leptospirose após ter contato com a água contaminada. O distrito de Mariante, levado pela enchente, faz parte da cidade.
A empresária se mudou do bairro União para a região central da cidade quando a água atingiu 1,70 metro na casa onde morava. Camila conta que a decisão foi imediata porque considerou que a situação poderia se repetir, como em 2014, quando uma inundação atingiu 40 centímetros em algumas casas da região.
O Sarandi, bairro mais atingido de Porto Alegre pelas cheias, tem outra pessoa que deixou a casa de maneira definitiva: a aposentada Eloir Loreto, de 79 anos. Depois das enchentes, a idosa está morando com o filho por tempo indeterminado até que consiga um novo lar.
— Era assim uma cachoeira pra dentro. Batia na metade da janela, assim. Eu achava que não ia encher de água. Tu pode imaginar uma casa grande com três quartos, sala de visita, cozinha, sala de jantar, lavanderia. Nada deu para guardar, para tirar — conta.
No bairro, a água atingiu 1,77 metro, que é o suficiente para deixar marcas e impregnar o cheiro. Os parentes de Eloir retiraram todos os móveis da residência, apesar de eles não terem mais uso. A família, no futuro, quer vender a casa.