A vitória contestada de Nicolás Maduro nas urnas deixou a Venezuela mais perto de um “banho de sangue” - exatamente como previu o ditador, se ele perdesse a eleição. Em dois dias de protestos contra os resultados da votação, 16 pessoas morreram, mais de 100 ficaram feridas e 750 foram presas.
De acordo com Alfredo Romero, diretor da ONG Foro Penal Venezolano, das 16 mortes, pelo menos cinco foram registradas em Caracas, incluindo dois menores de idade. O procurador-geral da Venezuela, o chavista Tarek William Saab, afirmou que os manifestantes presos poderão responder por “atos de terrorismo e instigação do ódio”.
As declarações de Maduro foram a senha para que seus apaniguados colocassem mais lenha na fogueira. Jorge Rodríguez, presidente da Assembleia Nacional, controlada pelo chavismo, pediu ao Ministério Público que prenda María Corina e Urrutia. Em alguns casos, o regime foi além das ameaças e de fato colocou dissidentes atrás das grades.
Prisões e cerco
Em carta ao governo do argentino Javier Milei, a chancelaria chavista negou nesta terça-feira, 30, salvo-conduto para que os seis deixem a Venezuela e deu 72 horas para que todos se entreguem. O edifício da embaixada da Argentina, localizado em Chacao, área nobre da capital, foi cercado e a luz, cortada. O temor era de que Maduro decida ordenar uma invasão.
O caso ameaça isolar ainda mais a Venezuela no continente. Anteontem, o regime expulsou o corpo diplomático de sete países: Panamá, República Dominicana, Argentina, Chile, Costa Rica, Peru e Uruguai - todos haviam contestado o resultado da eleição.
Ontem, Maduro também mandou suspender os voos comerciais vindos do Panamá e da República Dominicana - reduzindo ainda mais as ligações aéreas da Venezuela com o exterior.
Com o agravamento da crise diplomática, a OEA marcou para esta quarta-feira, 31, uma reunião de emergência a pedido de 11 países - o Brasil ficou de fora. Ontem, o secretário-geral, Luis Almagro, chamou o resultado da eleição de “manipulação aberrante”.
“Ao longo do processo eleitoral, vimos a aplicação pelo regime venezuelano do seu esquema repressivo, complementado por ações destinadas a distorcer o resultado”, afirmou Almagro.
Centro Carter
O Centro Carter, uma das poucas instituições independentes autorizadas a observar as eleições venezuelanas, cancelou ontem a divulgação de um relatório preliminar sobre a votação e optou por retirar toda a sua equipe da Venezuela.
Brasil, EUA e Colômbia estariam em compasso de espera, aguardando o parecer do Centro Carter para decidir qual posição tomar sobre a legitimidade da vitória de Maduro.
Ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou pela primeira vez sobre o tema e minimizou a crise na Venezuela.
Embora a posição de Maduro tenha se deteriorado fora da Venezuela, dentro do país ele recebeu o apoio que mais lhe interessa: do Exército. O ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, expressou sua “absoluta lealdade ao presidente”.