Quatro países latino-americanos assumiram, nesta sexta-feira
(2), a mesma posição adotada na noite de quinta-feira (1°) pelos Estados Unidos
e reconhecerem Edmundo González como presidente eleito da Venezuela.
Passados cinco dias desde a eleição, o mundo ainda não viu
as atas das seções eleitorais - cobradas pela comunidade internacional em peso.
Mas a Justiça venezuelana, controlada por Nicolás Maduro, declarou que vitória
dele é irreversível.
Pela manhã, Uruguai e Costa Rica seguiram a posição dos
Estados Unidos e do Peru e afirmaram que reconhecem Edmundo González como
vitorioso da eleição presidencial da Venezuela. No meio da tarde, Equador e
Panamá se juntaram ao grupo.
A presidente do Peru disse que Nicolás Maduro fraudou a
eleição. A ministra das Relações Exteriores da Argentina chegou a reconhecer a
vitória de Edmundo González. Horas depois, a Casa Rosada disse que vai esperar
o desenrolar dos acontecimentos. O ministro das Relações Exteriores venezuelano
reagiu, afirmando que os Estados Unidos lideram um golpe contra a Venezuela.
Na noite de quinta-feira (1º), o secretário de Estado
americano, Anthony Blinken, escreveu: “Dadas as evidências esmagadoras, está
claro para os Estados Unidos e para o povo venezuelano que Edmundo González
obteve a maioria dos votos na eleição de domingo” e que é hora de “os partidos
venezuelanos começarem as discussões sobre uma transição respeitosa e pacífica”.
A Casa Branca espera que a pressão internacional aumente
para que Nicolás Maduro seja forçado a negociar e fazer concessões. O governo
Biden tinha apostado em uma nova política de aproximação com a Venezuela. Mas o
regime de Maduro não cumpriu a sua parte do acordo.
Os Estados Unidos precisavam de um fornecedor de petróleo
depois que a Rússia passou a sofrer sanções por ter invadido a Ucrânia. As
empresas americanas ajudariam a recuperar a produção da Venezuela, que caiu
vertiginosamente desde que Hugo Chávez e, depois, Maduro chegaram ao poder.
Washington removeu sanções em troca do comprometimento de Maduro com eleições
justas e livres. Mas Maduro proibiu a ex-deputada Maria Corina Machado e a
indicada por ela, Corina Youres, de disputar a eleição. E o governo Biden
retomou as sanções.
Os Estados Unidos, a União Europeia, o G7 e o Brasil, México
e Colômbia - que ainda mantêm diálogo direto com a Venezuela - cobram a
apresentação das atas, os documentos com detalhes de cada uma das sessões de
votação. Já se passaram cinco dias desde a eleição e Maduro não as entrega.
Nesta sexta-feira (2), o Conselho Eleitoral declarou que
contabilizou quase todas as atas e que Maduro teve quase 52% dos votos e González,
43%. A mais alta instância da Justiça, controlada por Maduro, anunciou que a
proclamada vitória do presidente é irreversível.
Durante o processo eleitoral, a oposição mobilizou
militantes para serem fiscais. Por isso, afirma que já digitalizou 82% das atas
e que, por essa contagem, González teve 67% dos votos, contra 30% de Maduro.
De madrugada, homens encapuzados invadiram a sede do partido
da oposição, em Caracas.
Passava das 19h quando Nicolás Maduro e outro aliado, o
presidente da Assembleia Nacional, convocaram uma coletiva de imprensa. Sem
apresentar provas, declaram que as atas da oposição são falsas.
Steve Levitsky, professor da Universidade de Harvard e que
pesquisa sobre a América Latina, diz que se manter-se no poder, Maduro será
cada vez mais ilegítimo.
“O regime ainda pode sobreviver, mas é difícil sobreviver
apenas pela força. Este governo tem perdido legitimidade nos últimos anos, mas
agora é como uma hemorragia de legitimidade. E, se Maduro sobreviver, vai
sobreviver respirando por aparelhos”.
Posição do Brasil
O Palácio do Planalto informou que não se manifestará sobre
os novos números divulgados pelo Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela.
Com agenda pública nesta sexta-feira (2) no Ceará, o
presidente Lula também não se referiu à eleição na Venezuela e não comentou a
decisão dos Estados Unidos de declarar a vitória de Edmundo González.
Nos bastidores, diplomatas brasileiros ficaram surpresos,
principalmente porque, segundo eles, os americanos não consultaram os países
envolvidos mais diretamente na negociação com o regime de Maduro. Diplomatas
afirmam que a posição dos Estados Unidos é mais um entrave na negociação por um
acordo para checagem das atas dos votos. Cinco dias depois das eleições, a
Venezuela ainda não divulgou as atas. Mas o governo brasileiro mantém o tom.
A posição do Brasil é a mesma expressa na nota conjunta
divulgada na quinta-feira (1º) com Colômbia e México. Os três países não vão
declarar nenhum dos dois lados vencedor até que as atas sejam divulgadas e os
votos checados, e negociam para colocar na mesma mesa Nicolás Maduro e Edmundo
González em respeito à soberania do país. Consideram muito difícil um diálogo
do regime de Maduro com a líder da oposição, Maria Corina Machado.
Integrantes do governo brasileiro já manifestaram desconforto com a situação na Venezuela. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues, do PT, declararam esta semana que a Venezuela não é mais uma democracia porque não promoveu eleições livres.