Saberes compartilhados e a mobilização da cultura popular provocaram reflexões durante a passagem do 20 de Novembro em São Miguel do Oeste, data que pela primeira vez entrou para os calendários como feriado nacional, simbolizando o dia de Zumbi dos Palmares e da Consciência Negra. Atividades que discutem a diversidade étnico-racial ocorreram no Salão Paroquial da Paróquia São Miguel Arcanjo e na Praça Walnir Bottaro Daniel.
Pela manhã, cerca de 100 pessoas se inscreveram para participar do debate sobre a diversidade cultural e os editais de fomento, promovido pelo Comitê de Cultura de SC e a AFRODESMO. Reunidos em rodas de conversa, os participantes puderam expor suas visões a respeito de melhorias para que estes editais se tornem mais acessíveis. Além disso, a pauta sobre a falta de dados específicos de registro de violência sofrida pela população negra e LGBTQIAPN+ foi debatida. Sobre este assunto, foi sugerido reivindicar junto aos órgãos públicos a criação de iniciativa semelhante ao observatório da violência contra a mulher no estado.
Durante a palestra sobre os “Desafios do Negro Estrangeiro no Brasil e sua Cultura”, o professor Nahun Sain Julien, natural do Haiti e Graduando em Letras na UFFS, explanou sobre as suas vivências ao chegar em terras brasileiras. Em sua fala, ele reforça a importância de combater estereótipos ligados a corpos negros: “ ser negro é uma força de resiliência para lutar contra a desigualdade e o racismo”.
Na programação matutina, as crianças presentes participaram de atividades no espaço kids, com contação de histórias e pintura de desenhos. A primeira etapa de atividades se encerrou de forma saborosa: ao meio dia, foi servida uma feijoada, com todos os complementos tradicionais.
À tarde, o mobilização teve sequência exibindo muita potência na área coberta da Praça Walnir Bottaro Daniel. O clima que intercalou momentos nublados, de sol e pancadas de chuva, não impediu que a comunidade estivesse presente para prestigiar o 4º Festival AFRO CULTURAL. As apresentações artísticas se destacaram pela diversidade de expressões da cultura popular, envolvendo danças, percussão, canções, desfile, capoeira, poesia e literatura. Concomitante, artesãos locais realizaram exposição de produtos, enquanto crianças se divertiram no espaço voltado às brincadeiras. A equipe da AFRODESMO atuou com empenho para que o evento entregasse diversas mensagens à comunidade. No palco da área coberta, a presidente da entidade, Isete Carmen Lourenço, conduziu as apresentações com muita força e entrega. O fato do da data ser um feriado, contribuiu para que mais pessoas pudessem compartilhar as atividades.
Pessoas de diversos municípios da região partilharam este momento. Adriana Cardoso, 39 anos, professora em Paraíso, participou das atividades durante o dia todo. Para ela, o debate acerca da mobilização em prol de editais que fomentem a diversidade cultural foi muito relevante, e a expectativa é que eles sejam explorados em seu município. Além disso, a professora considera que incorporar práticas pedagógicas de diversidade étnico-racial em sala de aula é essencial para desconstruir preconceitos.
A ancestralidade também foi destaque. Dona Maria Lourenço, 81 anos, está em São Miguel do Oeste há seis décadas. Ela é mãe de Valdemar, Isete e Elisabete, família que se doou para que a AFRODESMO fosse fundada no município. A matriarca da família se emociona com as ações da expressão cultural sendo realizadas em espaço público. “Foi necessário muita luta e coragem para vivermos estes momentos”, celebra a conquista. Para Isete, a mãe é uma precursora das conquistas obtidas no presente. Ela está sempre junto na marcha da resistência denunciando o racismo. "Esse ano ela se realizou ao ver seu filho e filhas com autonomia nos projetos", destaca. Ainda sobre o evento e o feriado, a presidente da AFRODESMO reflete sobre o papel da comunidade em combater o racismo todos os dias.