Um homem que tentou matar a cunhada a facadas foi condenado a mais de 20 anos de prisão em Chapecó, no Oeste de Santa Catarina. Mas durante o julgamento, chamou a atenção a tentativa da esposa, que assistiu e também foi vítima das agressões, em atentar absolvê-lo do crime.
Entenda o caso que ocorreu em Chapecó
Conforme a denúncia do Ministério Público, era junho de 2024 quando o homem de 34 anos, que estava embriagado, ficou agressivo sem motivo aparente. Além dele, também estavam na casa a companheira, a filha dos dois de cinco anos e cunhada grávida de cinco meses.
Agindo com violência, o homem pegou uma faca e um facão e pressionou a faca no queixo da filha, causando um pequeno ferimento. A criança gritou pela tia, que se tornou o próximo alvo: o homem a atacou com golpes de faca e facão, tentando matá-la. A companheira tentou intervir, mas também foi atacada.
A situação só não piorou, segundo a denúncia, porque o cunhado do homem chegou ao local e abriu a porta da casa, momento em que o réu foi em direção a ele desferindo diversos golpes, mas o homem conseguiu se proteger do lado de fora da casa.
A companheira e a cunhada, mesmo feridas, conseguiram fugir pela janela e buscaram ajuda na rua. O réu, ainda armado, também saiu pela janela atrás delas, mas foi impedido por um motorista que passava pelo local de carro e acelerou em direção a ele, permitindo que as vítimas tivessem tempo de se abrigar em uma casa vizinha. O crime foi registrado por câmeras de segurança instaladas em casas próximas ao local.
Esposa tentou absolver o réu em depoimento durante o júri
Durante o júri, a companheira do réu foi ouvida e, em seu depoimento, tentou convencer o júri pela absolvição do homem, reforçando que tinha o perdoado e que ele era uma boa pessoa.
“Neste Júri ocorreu algo infelizmente não tão incomum. Uma das vítimas (esposa do acusado) ainda não percebe ou aceita que é vítima violência doméstica. Parte do crime foi gravado por câmeras de segurança de duas residências vizinhas. Mesmo diante de tanta violência e de provas muito claras, a esposa do acusado tentou inocentá-lo. Prestou um depoimento desconectado da realidade, a ponto de negar as imagens das câmeras de segurança. Esta postura foi muito impactante, mas os jurados perceberam as mentiras. Mais do que isso, entenderam que ela ainda está sob a influência do acusado, presa a um relacionamento abusivo e que precisa de ajuda”, disse o promotor de Justiça Joaquim Torquato Luiz.
O homem acabou condenado por homicídio tentado qualificado, por uso de recurso que dificultou a defesa da vítima e feminicídio, e por duas lesões corporais. Ele também foi sentenciado a pagar R$ 25 mil em danos morais à cunhada e R$ 5 mil à companheira e à filha. Ele está preso sem direito de recorrer em liberdade.
Como identificar um relacionamento abusivo
O ciclo do relacionamento abusivo é uma dinâmica recorrente que muitas vezes mantém a vítima presa à relação, mesmo diante de sofrimento. Esse ciclo geralmente tem três fases principais.
A primeira é a tensão, marcada por desentendimentos, críticas e comportamento controlador por parte do abusador, que cria um clima de medo e ansiedade.
Em seguida, ocorre a explosão, quando os conflitos atingem seu auge, resultando em agressões verbais, emocionais ou físicas.
Após essa fase, vem o arrependimento ou “lua de mel”, em que o agressor se mostra arrependido, promete mudar, demonstra afeto e oferece presentes ou gestos de carinho, o que faz a vítima acreditar em uma possível transformação.
Esse ciclo tende a se repetir e, com o tempo, a fase de “lua de mel” vai diminuindo ou desaparecendo, enquanto a tensão e as explosões tornam-se mais frequentes. A vítima, muitas vezes, sente-se emocionalmente presa, seja por medo, culpa ou esperança de mudança, o que dificulta o rompimento da relação.
Reconhecer esses padrões é essencial para buscar ajuda, seja por meio de amigos, familiares ou profissionais especializados, além de acessar redes de apoio e serviços que ofereçam proteção e acolhimento.
Denuncie
Se você está sofrendo violência doméstica ou conhece alguém que esteja, denuncie em um destes órgãos:Polícia Militar de Santa Catarina: ligue para o 190 (em caso de emergência);
Polícia Civil de Santa Catarina: ligue para o 181 (aceita denúncia anônima) ou entre em contato com (48) 98844-0011 (WhatsApp/Telegram); você também pode acessar a Delegacia de Polícia Virtual da Mulher ou ir à delegacia mais próxima;
Ministério Público de Santa Catarina: entre em contato com a Ouvidoria do MPSC ou vá à Promotoria de Justiça mais próxima;
Central de Atendimento à Mulher: ligue para 180 (denúncias e informações sobre violência doméstica; funciona 24 horas, todos os dias e em todo o país, sem cobranças para ligações).