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Considerada uma das maiores rotas de peregrinação, o Caminho de Santiago é um desafio que instiga pessoas ao redor de todo mundo. Embora o nome seja conhecido no singular, a verdade é que existem múltiplos caminhos, sendo que todos os pontos de partida levam a um mesmo destino, a Catedral de Santiago de Compostela, situada na cidade de nome homônimo, no noroeste da Espanha. A cada ano, mais de 400 mil pessoas percorrem esta jornada, geralmente feita a pé ou de bicicleta. Aqueles que se lançam neste desafio são conhecidos como peregrinos, pois vivenciam esta experiência a partir de uma nova perspectiva, abrindo mão de conforto para imergir em um longo trajeto repleto de paisagens, história e autoconhecimento.
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Um dos itinerários mais conhecidos é o “Caminho Francês”, o qual é formado por um trajeto de 800 km, tendo como ponto de partida a cidade de Saint-Jean-Pied-de-Port, na França. Com o intuito de se superar, se desafiar e conhecer uma nova experiência, três pessoas de Maravilha escolheram trilhar este trajeto a pé, apenas com suas mochila nas costas. O grupo de peregrinos foi formado pelo professor de Matemática e Física Gilberto Inácio Erpen, pelo professor de História e Geografia Sérgio Losch e por seu filho Yuri Wahlbrink Losch, de 14 anos. A caminhada teve início no dia 6 de dezembro de 2024 e, a partir dessa data, os peregrinos passaram 34 dias ao longo do caminho, percorrendo uma média diária de 25 km a pé e enfrentando as temperaturas abaixo de zero do rigoroso inverno europeu.
Em entrevista à Lider FM, após o retorno ao Brasil, o trio relatou que a cada passo se deparava com novas descobertas, de um caminho nada linear, sendo surpreendidos por paisagens cobertas de gelo - como a cordilheira dos Pirineus, resquícios de cidades construídas antes de Cristo, e memoriais repletos de elementos que destacam monumentos históricos.
A rota também está ligada a um rigoroso planejamento e organização, onde são estipulados os trechos diários para que se possa chegar aos locais com albergues para se abrigar durante a noite. Existem albergues públicos, bem como os privados. Sérgio explica que a opção por realizar o caminho no inverno se deu pela possibilidade de encontrar mais vagas nos albergues públicos, os quais são voltados exclusivamente aos peregrinos. Para isso, é necessário portar uma credencial (uma espécie de passaporte do peregrino), que recebe um carimbo com data após a passagem por cada albergue. Gilberto destaca a hospitalidade dos moradores, que convivem diariamente com os peregrinos que passam pelas cidades e vilas. Ele menciona, inclusive, como eles costumam lançar gritos de aviso sempre que percebem que algum peregrino erra o trajeto.
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Nas surpresas do trajeto, a oportunidade de conhecer diferentes histórias. Seja nos albergues ou durante o percurso, peregrinos de diversas nacionalidades e realidades encontram no caminho um objetivo a ser cumprido. Yuri recorda que conheceu pessoas que peregrinavam pela primeira vez, e outros que já haviam realizado o caminho em nove oportunidades.
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O dia 8 de janeiro de 2025 marca a data de encerramento da caminhada. Ao chegar na Catedral de destino, cada peregrino recebe uma Compostela com o registro do seu percurso, além de um documento com seu nome em Latim. Ainda é possível acompanhar uma missa no local.
“O caminho não é só felicidade, também deixa cicatrizes.” A frase já conhecida por quem costuma peregrinar foi destacada por Gilberto. Afinal, as adversidades também fazem parte do trajeto. Ele relembra das condições climáticas como o frio intenso e a chuva, as bolhas nos pés e a canelite. Já Yuri teve que enfrentar um período de febre. Porém, se questionados se fariam o caminho novamente, a resposta é positiva. “Peregrino é pelo resto da vida”, ressalta Sérgio. O intuito do grupo é escolher um novo trajeto do Caminho de Santiago de Compostela para se aventurar futuramente. A riqueza de detalhes compartilhada pelo trio sobre a experiência de estar tão próximo de monumentos históricos despertam a curiosidade e pode render horas de conversa.
Quanto à preparação, o grupo de Maravilha ressalta que, além da organização financeira e do preparo físico, o aspecto psicológico é fundamental para enfrentar o desafio e aproveitar ao máximo as oportunidades que o trajeto oferece.
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