
O Procurador-Geral de Justiça, Fábio de Souza Trajano,
recebeu com preocupação o comunicado do Superintendente da Polícia Rodoviária
Federal (PRF) em Santa Catarina, Manoel Fernandes Bittencourt, informando a suspensão
da parceria que vigora desde julho de 2002 entre a PRF e o Grupo de Atuação
Especial de Combate às Organizações Criminosas (GAECO), força-tarefa coordenada
pelo Ministério Público de Santa Catarina (MPSC). Manoel
Fernandes reuniu-se pessoalmente com Trajano na tarde desta quinta-feira
(6) na sede do MPSC, em Florianópolis. O Coordenador-Estadual do GAECO,
Promotor de Justiça Marcio Cota, também participou do encontro.
A partir de segunda-feira (10), os policiais rodoviários
federais que atuam no GAECO voltarão para as suas lotações de origem sem
prejuízo dos trabalhos ainda não finalizados, conforme previsto no acordo de
cooperação técnica renovado em agosto do ano passado. A suspensão da parceria
ocorre por determinação do Ministério da Justiça.
"Estamos absolutamente perplexos com a suspensão do
convênio da Polícia Rodoviária Federal com o Ministério Público de Santa
Catarina, em que nós temos policiais rodoviários federais na força-tarefa do
GAECO. A partir desse momento, infelizmente, o combate à criminalidade
organizada em Santa Catarina será fragilizado, como aos assaltos a bancos, ao
tráfico de entorpecentes e às facções criminosas. Também em relação ao combate
aos crimes praticados contra a administração pública, como a Operação Mensageiro
e tantas outras", declarou o Procurador-Geral de Justiça Fábio de Souza
Trajano.
Na reunião com o Superintendente da PRF em Santa Catarina,
Trajano sinalizou, ainda, que já está tratando com o Conselho Nacional de
Procuradores Gerais (CNPG) e com o Grupo Nacional de Combate às Organizações
Criminosas (GNCOC) para que o cancelamento da parceria seja revisto e as
investigações e trabalhos em andamento não sejam prejudicados.
"Temos uma expectativa muito positiva de que o senhor
Ministro da Justiça reveja esse posicionamento e permita que em Santa Catarina
nós possamos continuar com essa força-tarefa, que tem dado resultados tão
positivos à sociedade. Nós precisamos de união e não de divisão",
complementou o PGJ, que no final da tarde desta quinta-feira contatou o
Coordenador do Fórum Parlamentar Catarinense no Congresso Nacional, Valdir
Covalchini, a fim de buscar apoio dos parlamentares do Estado para reverter a
situação.
Na conversa com o PGJ, o Superintendente da PRF em Santa
Catarina, inspetor Manoel Fernandes Bitencourt, relatou a orientação da medida
recebida da direção-geral da PRF sobre o fim do termo de cooperação com o GAECO
e se mostrou esperançoso da retomada da parceria.
"Em função de uma portaria do Ministério da Justiça que
limitou a participação da Polícia Rodoviária Federal em operações externas às
rodovias federais, a nossa direção, até entender melhor como é e como pode ser
essa participação da PRF nas forças-tarefas, determinou a suspensão da
participação da PRF em todas as forças-tarefas, como no caso do GAECO. Então,
nesse momento, a orientação é que a gente suspenda até que isso seja melhor
definido. Esperamos que em breve a gente possa retornar, porque é uma parceria
que vem dando certo há muito tempo e para a PRF é muito importante manter essas
parcerias", afirmou o Superintendente.
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OPERAÇÕES EM PARCERIA COM A PRF
A parceria do GAECO com a PRF resultou nos últimos anos em
operações que contribuíram significativamente para o combate ao crime
organizado em Santa Catarina, entre as quais se destacam as seguintes:
- Operação
Mensageiro: a maior operação de combate à corrupção, resultando na prisão
de diversos servidores públicos e empresários. A PRF teve participação
importante, com a identificação de pessoas e veículos envolvidos nos
crimes.
- Roubo
de ônibus de turismo e bancos: uma organização criminosa que atuava há mais
de 30 anos foi desmantelada em parceira com a PRF, resultando na prisão de
envolvidos e na apreensão de armas e munições.
- Roubo
ao Banco do Brasil em Criciúma: um assalto de grandes proporções no estilo
"novo cangaço" foi solucionado com a identificação de pessoas e
veículos, com ajuda fundamental da PRF.
- Operação
60 Segundos: uma organização criminosa que realizava furtos de
caminhonetes no Vale do Itajaí foi desarticulada com ajuda da PRF.
- Operação
ABRA: uma associação criminosa que roubava veículo no Rio Grande do Sul e
os trazia para desmonte e venda de peças em Santa Catarina foi
desmantelada graças à expertise da PRF.
- Operação
Rota 600: a partir da apreensão de 600 quilos de maconha pela PRF, foram
identificados outros veículos e pessoas da organização criminosa,
resultando na apreensão de mais de seis toneladas de drogas.
Sem a parceria com a PRF, operações como essas não teriam
ocorrido e a partir de agora o combate ao crime organizado poderá ser impactado
em Santa Catarina, com prejuízos à sociedade e às próprias instituições que
fazem parte da força-tarefa. O GAECO é integrado pelo Ministério Público,
Polícia Militar, Polícia Civil, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Penal,
Receita Estadual e Corpo de Bombeiros Militar, e tem como finalidade a
identificação, prevenção e repressão às organizações criminosas.
NOTA OFICIAL DO MPSC
Ainda nesta quinta-feira, o MPSC divulgou uma nota em apoio
do Grupo Nacional de Combate às Organizações Criminosas (GNCOC), que congrega
os GAECOs de todos os Ministério Públicos do Brasil. Clique
aqui e acesse a nota oficial do MPSC.
REPERCUSSÃO
Especialista em combate a organizações criminosas fala em
retrocesso
Uma das maiores autoridades no combate a organizações
criminosas no Brasil, o Promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do GAECO de São
Paulo, disse em uma entrevista recente que a medida é um retrocesso.
"Estamos num momento em que se fala no mundo inteiro de integração e de
cooperação, não só entre os países, mas entre estados e entre as policiais. Me
parece que a retirada da PRF dessas forças, como os GAECOs no Brasil inteiro,
vem na contramão. É um retrocesso. Precisamos de integração e cooperação entre
as instituições", declarou Gakiya.
GNCOC diz que medida contraria princípios de cooperação
Em nota, o Presidente do Grupo Nacional de Combate às
Organizações Criminosas (GNCOC) e Procurador-Geral de Justiça do MPAC, Danilo
Lovisaro do Nascimento, manifestou perplexidade e preocupação com a decisão,
que considera totalmente contrária aos princípios de cooperação e integração
que se mostram indispensáveis ao enfrentamento da criminalidade no Brasil. Para
o GNCOC, a decisão de cancelar os convênios representa um retrocesso e se
distancia das melhores práticas globais no combate ao crime organizado. Confira
a nota do GNCOC:
Manifesto perplexidade e preocupação com a decisão da
Polícia Rodoviária Federal de romper os convênios com os Grupos de Atuação
Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaecos) dos Ministérios Públicos
Estaduais. Essa medida contraria o princípio de cooperação e integração
institucional, que tem se mostrado indispensável para o enfrentamento eficaz da
criminalidade no Brasil.
Ao longo dos últimos anos, o trabalho integrado da Polícia
Rodoviária Federal aos Gaecos resultou em operações de grande relevância, que
desarticularam redes criminosas no país, protegendo a sociedade e fortalecendo
a segurança pública.
O combate ao crime organizado exige a atuação conjunta e
coordenada dos órgãos de segurança. O enfraquecimento dessa integração
representa um retrocesso e impõe desafios adicionais às instituições que
trabalham para garantir a ordem e a justiça.
Além do combate às organizações criminosas, a Polícia
Rodoviária Federal auxilia sobremaneira em diversas outras áreas de atuação dos
Ministérios Públicos, como a erradicação do trabalho escravo, o combate à
prostituição infanto-juvenil, a proteção ao meio ambiente e o enfrentamento da
tortura. Projetos essenciais nessas áreas serão paralisados em razão da
medida.
A decisão do Ministério da Justiça e Segurança Pública,
concretizada na Portaria nº 830/2024, e a interpretação da Direção-Geral da
Polícia Rodoviária Federal, expressa no OFÍCIO-CIRCULAR Nº 3/2025/DG, se
distanciam das melhores práticas globais no combate ao crime organizado,
colocando o Brasil na contramão dessas essas abordagens. O enfrentamento do
crime organizado se dá por meio da união e da cooperação entre as
instituições.
Danilo Lovisaro do Nascimento Procurador-Geral de Justiça do
MPAC Presidente do Grupo Nacional de Combate às Organizações Criminosas
(GNCOC).