Mulheres com idade entre 40 e 74 anos que possuem planos de saúde passarão a ter acesso ampliado ao rastreamento do câncer de mama na rede privada. A decisão foi tomada após reunião entre a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama) e entidades médicas, e estabelece novos critérios de qualidade que farão parte do Programa de Certificação em Atenção Oncológica.
A principal mudança é a flexibilização do intervalo para a realização do exame de mamografia, que agora poderá ser anual, bienal ou até semestral, conforme indicação médica e histórico da paciente. Mulheres com maior risco para a doença também poderão ter o rastreio individualizado, independentemente da idade. Já acima dos 74 anos, a recomendação será feita conforme a expectativa de vida da paciente.
Entre os critérios acordados, ficou definido que operadoras de saúde deverão realizar busca ativa bienal para rastreio em beneficiárias de 50 a 69 anos. Além disso, ficou claro que nenhuma operadora poderá recusar a realização de mamografias indicadas por profissionais médicos. A recomendação brasileira de rastreamento publicada em 2023 será incorporada à base teórica do programa.
As diretrizes foram discutidas como resposta à Consulta Pública nº 144 da ANS, que recebeu críticas por restringir a faixa etária e o intervalo dos exames. A presidente da Femama, a médica Maira Caleffi, destacou que quase metade dos diagnósticos de câncer de mama no Brasil ainda ocorre em estágios avançados, o que reduz as chances de cura. Segundo ela, o rastreamento organizado é um passo importante para mudar essa realidade.
"Atualmente, quase metade dos diagnósticos desse tipo de neoplasia são realizados em estágios avançados da doença, II ou III - o que impacta diretamente nas chances de cura e na qualidade de vida das pacientes ao longo da jornada oncológica. Trabalhando com uma diretriz de rastreamento organizado, ampliamos o diagnóstico precoce e as chances de cura, uma vez que o número de pacientes abaixo dos 50 anos representa uma alta parcela (43%) da população brasileira diagnosticada com a doença", diz
A decisão também reforça que a cobertura obrigatória para mamografia bilateral continua valendo para qualquer idade, desde que haja indicação médica, e que a participação das operadoras no programa de certificação é voluntária.
A nova diretriz foi anunciada durante a 12ª Conferência de Lideranças em Saúde da Mulher, que acontece em Brasília até 27 de março. O evento reúne representantes do setor público e da sociedade civil para discutir políticas de saúde com foco no câncer na mulher.
Um dos destaques da conferência foi a pré-estreia do filme “Câncer com Ascendente em Virgem”, estrelado por Suzana Pires e Fabiana Karla. Dirigido por Rosane Svartman, o longa é baseado na história real de Clélia Bessa e aborda, de forma leve e sensível, a jornada do diagnóstico ao enfrentamento da doença, com ênfase no apoio e na sororidade.
“O cinema consegue chegar no coração das pessoas. O filme certamente vai conscientizar muitas mulheres sobre a importância do rastreamento”, disse Suzana Pires. Fabiana Karla reforçou: “Esse evento é uma verdadeira aula. Estamos ajudando a tornar o câncer de mama um assunto mais visível e menos tabu”.