
Em menor ou em maior proporção, o tarifaço de 50% sobre exportações brasileiras aos Estados Unidos, anunciado há duas semanas pelo presidente Donald Trump e que entrará em vigor em agosto, tem impacto direto em quase metade dos municípios de Santa Catarina. No primeiro semestre de 2025, 130 das 295 cidades catarinenses registraram envio de produtos ao mercado americano, maior parceiro do Estado no comércio exterior.
A coluna fez o levantamento junto a dados disponibilizados pelo observatório da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc). Em 72 dessas cidades, as exportações entre janeiro e junho não superaram US$ 1 milhão. Isso indica, em alguns casos, vendas mais pontuais aos Estados Unidos. Por outro lado, muitos desses municípios são de pequeno ou médio porte, e o aumento nas tarifas respinga diretamente na economia local e em alguns setores específicos.
Alguns exemplos: com uma população de cerca de 75 mil habitantes, Araranguá, no Sul, exportou US$ 15,6 milhões aos Estados Unidos no primeiro semestre deste ano. Dois terços desse valor (US$ 10,6 milhões) foram representados pela produção de mel. A pequena Três Barras, no Planalto Norte, tem 20 mil moradores. De lá saíram, entre janeiro e junho, US$ 15,75 milhões rumo ao mercado americano. A madeira respondeu por praticamente 100% desse montante. O tarifaço é um baque para o segmento.
Os maiores efeitos, no entanto, recaem em economias de cidades maiores e mais industrializadas. O município catarinense que mais exportou para os Estados Unidos no primeiro semestre deste ano foi Joinville, com embarques na ordem de US$ 123,53 milhões. Na sequência aparece Jaraguá do Sul, com US$ 112,92 milhões. A dupla é protagonista do polo metalmecânico do Norte do Estado, que produz motores, transformadores e peças para veículos – itens muito comprados pelos Estados Unidos.
Em outros casos, há cidades catarinenses que têm as exportações turbinadas em função de poucas ou até mesmo de uma única empresa. Caçador, no Oeste, abriga uma das maiores fábricas de MDF da América Latina, que pertence à empresa Guararapes. Entre janeiro e junho, a cidade exportou US$ 101,74 milhões ao mercado americano, o terceiro maior resultado do Estado, a maior parte em madeira e artigos de carpintaria.
A aparente indisposição de Trump em recuar na medida, o pouco avanço da solução para o problema pela via diplomática e o tensionamento cada vez maior no cenário político local, com o cerco se fechando ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) – um dos argumentos usados pelos Estados Unidos para aumentar as tarifas –, criam um cenário imprevisível para exportadores catarinenses até mesmo no curto prazo.
Ao longo do primeiro semestre de 2025, as exportações catarinenses somaram, ao todo, US$ 5,86 bilhões, dos quais US$ 847,24 milhões tiveram como destino os Estados Unidos.