SAÚDE - 09/12/2024 07:49

Cerca de 20% dos cânceres diagnosticados no Brasil são consequência do tabagismo, diz pesquisa

A Sociedade Brasileira de Patologia e Fundação do Câncer alertam sobre risco de fumar, que pode provocar 12 tipos de tumores malignos; entidades no país também são contra o uso do cigarro eletrônico
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Mais de 1 milhão de pessoas já experimentaram vapes no Brasil, segundo Ministério da Saúde – Foto: Freepik/Reprodução

A SBP (Sociedade Brasileira de Patologia), entidade que representa os médicos especialistas em diagnóstico do câncer e outras doenças, alerta que o hábito do uso do cigarro está relacionado a pelo menos 12 tipos de cânceres. Este grupo é responsável por em torno de 20% de todos os casos da doença no país.

“Fumantes têm até dez vezes mais chances de desenvolver câncer de boca, e o risco de um fumante ter câncer de esôfago é de duas a quatro vezes maior. No câncer de laringe, a situação é ainda mais crítica, pois cerca de 90% dos casos estão associados ao tabagismo”, informa o médico patologista Gerônimo Jr.

O especialista explica que próximo de 50% dos casos de câncer de bexiga em homens e 30% em mulheres estão ligados ao tabaco. Isso porque produtos com tabaco possuem nicotina, que causa dependência, e mais de 4.000 substâncias tóxicas e a maioria com potencial cancerígeno. O tabaco é ainda o principal fator de risco para cânceres como o de pulmão. “Este tipo de tumor está diretamente relacionado ao tabagismo em cerca de 85% dos casos.”

Cigarro eletrônico também é prejudicial

A Fundação do Câncer reforça o Movimento VapeOFF, contra os cigarros eletrônicos, os vapes ou pods, e apela à população, em especial aos jovens, para que “se liguem na vida e sejam um vapeOFF”. Em parceria com a Anup Social, que integra a Anup (Associação Nacional das Universidades Particulares), a entidade espera mobilizar jovens e adultos a aderirem à campanha de combate ao uso do produto.

O epidemiologista e consultor médico da Fundação do Câncer, Alfredo Scaff, destaca que, segundo a Opas (Organização Pan-Americana de Saúde), o consumo do cigarro eletrônico aumentou 600% nos últimos seis anos no mundo.

Dados do Ministério da Saúde mostram que mais de 1 milhão de pessoas já experimentaram vapes, apesar de sua comercialização ser proibida no país desde 2009. O mais grave é que 70% desse público têm entre 15 e 24 anos, complementou Scaff.

Novos casos de câncer de pulmão no Brasil

Dados do Inca (Instituto Nacional do Câncer) indicam que são estimados 18.740 novos casos de câncer de pulmão por ano entre os homens e 12.530 entre as mulheres no Brasil. A doença é o terceiro tipo mais comum de câncer entre os homens e o quarto entre as mulheres, excetuando o câncer de pele não melanoma.

O tabagismo também é relacionado a cânceres de cabeça e pescoço, de rim, colo de útero, fígado, bexiga, pâncreas, estômago, colorretal e as leucemias mieloides agudas.

Os não fumantes também sofrem com os efeitos nocivos do tabagismo. O fumo passivo é uma causa importante de doenças respiratórias e cardiovasculares, além de aumentar o risco de câncer de pulmão em não fumantes. Crianças expostas ao fumo passivo são particularmente vulneráveis, estando em maior risco de desenvolver infecções respiratórias, asma e outras complicações graves.

Políticas de controle do tabagismo Diante da possibilidade de aprovação do projeto de lei 5.008/2023, que dispõe sobre a produção, importação, exportação, comercialização, controle, fiscalização e propaganda dos cigarros eletrônicos, no Senado, a SBP foi signatária de nota oficial contrária à proposta de mudança na atual regulamentação desse tipo de cigarros no Brasil. O documento foi encabeçado pela AMB (Associação Médica Brasileira) e assinaram outras 79 entidades científicas.

Consumo de cigarros eletrônicos tem crescido, apesar de proibição

Atualmente, os chamados vapes ou pods têm sua venda proibida no país desde 2009 e, em abril deste ano, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) ratificou o impedimento. Em 2023 cerca de 6% dos adultos brasileiros faziam uso de cigarros eletrônicos, com prevalência na faixa etária dos 18 aos 24 anos. No entanto, a pesquisa não traz dados sobre o uso por menores de 18 anos, entre os quais especialistas observam o aumento na utilização.

De acordo com o médico presidente da SBP, Clóvis Klock, um único cigarro eletrônico tem mais nicotina que em torno de 400 cigarros comuns. Além disso, possui produtos químicos que podem causar a fibrose do pulmão em um ou dois anos, causando a Evali (Lesão Pulmonar Associada ao Uso de Cigarro Eletrônico), que causa até a necessidade de transplante.

As sociedades científicas também condenam veemente a liberação do uso do cigarro eletrônico com a justificativa de que haveria o aumento da arrecadação de impostos. “A previsão é de arrecadar de R$ 2 a 3 bilhões com possíveis tarifas da comercialização do cigarro eletrônico. Porém, hoje os gastos sociais e na saúde devido ao uso de cigarro é de quase R$ 200 bilhões”, detalha Klock.

Leis antitabaco

Para Clóvis Klock, a lei 9.294, de 1996, que proíbe o consumo de tabaco em locais coletivos e restringe a venda e a propaganda deste tipo de produto é uma das melhores leis antitabaco no mundo. No entanto, há uma proposta do Senado que pode colocar tudo a perder.“Desde a década de 1990, reduzimos o número de fumantes de cerca de 40% para 10% da população.

No entanto, o que vemos é que com o uso do cigarro eletrônico, houve um aumento no número de fumantes em diversas faixas etárias. Nosso objetivo é pautar o combate ao contrabando, ao uso e à venda deste produto”, pontua.

A SBP também integra a Aliança contra o Câncer de Pulmão, criada em 2023 a partir da parceria com 79 entidades que assinaram a nota da AMB. O objetivo da é trazer ao público a cultura da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de pulmão. “A luta está longe de ser vencida. Parar de fumar é a decisão mais importante que uma pessoa pode tomar para melhorar sua saúde e qualidade de vida”, conclui o médico Gerônimo Jr.

Fonte: ND+
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