A violência matou 45.747 pessoas no Brasil em 2023, uma média de 125 mortes por dia. O número, entretanto, registra uma pequena redução em relação ao ano anterior, quando foram contabilizadas 46.409 mortes violentas.
O dado faz parte do Atlas da Violência 2025, divulgado nesta segunda-feira (12) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), vinculado ao governo federal, e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), uma organização sem fins lucrativos.
O estudo faz comparativos desde 2013, quando o número de mortes chegou a 57.396. Ou seja, de lá para cá, houve redução de 20,3% na quantidade de homicídios.
O ano com mais casos foi 2017, com 65.602 homicídios. O menor, 2019, registrou 45.503 mortes. Na comparação com o ano que registrou mais casos, a queda em 2023 é de aproximadamente 30%.
Os dados do Atlas da Violência são coletados de fontes oficiais, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pela contagem da população, e o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde.

Taxa de homicídio
Como a população brasileira aumentou ao longo dos últimos anos, uma forma de saber como se comporta a proporção de homicídios no país é por meio da taxa de homicídios registrados por 100 mil habitantes.
Esse indicador revela que em 2023 foram 21,2 homicídios por 100 mil habitantes, a menor taxa já registrada no estudo, coordenado pelo pesquisador Daniel Cerqueira, do Ipea, e pela diretora executiva do FBSP, Samira Bueno.
Em 2022, a taxa era 21,7 homicídios por 100 mil habitantes — redução de 2,3% na taxa de um ano para o outro. O pico foi em 2017, quando alcançou 31,8 registros.

Motivos para a queda
Apesar de o estudo trazer comparações a partir de 2013, o pesquisador Daniel Cerqueira afirmou à Agência Brasil que a redução na taxa de homicídios vai além desse período.
— Trata-se da menor taxa de homicídios que o Brasil atingiu nos últimos 31 anos — pontua Cerqueira.
Segundo ele, dois fatores principais explicam essa tendência decrescente. Um deles é o envelhecimento da população, uma vez que jovens são mais associados à violência.
— O que nós sabemos das evidências científicas é que um ator importante, seja como vítima, seja como o perpetrador nesse drama da violência é o jovem. Quando a população envelhece, isso provoca uma maré a favor de redução de homicídios.
Estados
O Atlas da Violência também apresenta os dados por unidades da federação (UF). Em 2023, 20 Estados apresentaram taxa de homicídio por 100 mil habitantes superior à média nacional, com destaque negativo para Amapá (57,4), Bahia (43,9) e Pernambuco (38).Das sete UFs abaixo da média nacional, as menores taxas foram registradas em São Paulo (6,4), Santa Catarina (8,8) e Distrito Federal (11).
Em uma análise mais expandida, o documento ressalta que "há pelo menos oito anos, nada menos que 11 UFs têm conseguido reduzir sistematicamente a taxa de homicídios".
São eles:
Pará
Rio Grande do Norte
Rio Grande do Sul
Santa Catarina
Sergipe
Distrito Federal
Espírito Santo
Goiás
Minas Gerais
Paraíba
São Paulo
Armas de fogo
O Atlas da Violência revela que 32.749 homicídios foram cometidos por arma de fogo no país. Em 2017, ano mais violento, esse número chegou a 49 mil.
O dado de 2023 equivale a 15,2 mortes por arma de fogo a cada 100 mil habitantes. O levantamento aponta também que 71,6% das mortes violentas no país foram praticados com esse tipo de armamento.
Amapá (48,3), Bahia (36,6) e Pernambuco (30,8) são os Estados com as maiores taxas. Por outro lado, destacam-se positivamente São Paulo (3,4), Santa Catarina (4,4), Distrito Federal (5,3) e Minas Gerais (8,3).
O relatório aponta fragilidades na fiscalização de armas no país e afirma que "quanto maior a circulação e a prevalência de armas de fogo, maior tende a ser a taxa de homicídios".
Homicídios ocultos
Os pesquisadores do Ipea e do FBSP chamam de "homicídios ocultos" os casos de violência que não foram adequadamente identificados pelos sistemas oficiais. Por meio de modelos matemáticos, eles chegam a uma taxa estimada de homicídios.
"No período compreendido entre 2013 e 2023, identificamos a ocorrência de 51.608 homicídios ocultos no Brasil, que passaram ao largo das estatísticas oficiais de violência no país, uma média anual de 4.692 homicídios que deixaram de ser contabilizados", diz o texto.
Com o acréscimo desses dados, a taxa estimada de homicídios no país chega a 23 casos por 100 mil habitantes em 2023. Assim como o número de casos efetivamente registrados, trata-se também do menor índice desde 2013.
O ponto mais alto ocorreu em 2017, com 33,6 casos por 100 mil habitantes. Em 2022, o indicador marcou 24,5.
O Atlas da Violência nota que a inclusão dos homicídios ocultos faz mudar significativamente os indicadores dos Estados. São Paulo é o caso mais extremo: em 2023, o Estado teria deixado de registrar 2.277 homicídios. Dessa forma, enquanto a taxa de homicídios registrados era de 6,4 para cada 100 mil habitantes, a estimada naquele ano era de 11,2.
"Com isso, o Estado de São Paulo deixa de ser a UF menos violenta da nação, passando para a segunda posição, atrás de Santa Catarina (nove estimados por 100 mil habitantes)", frisa o documento.
Mortes em acidentes de motocicleta
Pela primeira vez, o Atlas da Violência mapeou o número de mortes causadas por acidentes de trânsito. Especificamente em relação a acidentes envolvendo motocicletas, a taxa atingiu 6,3 mortes por 100 mil habitantes em 2023, o que equivale a alta de 12,5% ante 2022. Desde 2020, a taxa era mantida em 5,6.
O anuário registrou 34,9 mil acidentes de trânsito envolvendo morte em 2023. No ano anterior, foram 33,9 mil. Na série apresentada pelo Atlas da Violência, o ano com mais casos foi 2014, com 43,8 mil.
Já em relação ao número de acidentes com óbito que envolveram motocicletas, 2023 teve quase 13,5 mil, ante 12 mil no ano anterior. Em 2014, foram registrados 12,6 mil, pico do período de 2013 a 2023.
As informações de 2023 indicam que as motos estão envolvidas em 38,6% dos acidentes com mortes no trânsito. Essa proporção varia enormemente quando se analisam dados dos Estados.
Em sete deles, os acidentes com motocicletas são mais da metade:
Piauí: 69,4%
Ceará: 59,5%
Alagoas: 58,4%
Sergipe: 57,8%
Amazonas: 57,3%
Pernambuco: 54,4%
Maranhão: 52,2%
Rio de Janeiro: 21,4%
Amapá: 24,1%
Rio Grande do Sul: 24,5%
Distrito Federal: 24,5%
Minas Gerais: 25,9%
Paraná: 30,7%