Inicialmente, a área adquirida em 2002, conhecida como Rancho, era um local de lazer para Cleonor, que criava cavalos e cachorros para aproveitar os fins de semana com amigos, em um estilo de vida que ele chama de "gaúcho".
Anos depois, ele comprou uma segunda área que batizou de Salto do Jaguaretê. O nome foi inspirado pelo antigo proprietário, Seu Antonio Pichetti, que lhe contou ter visto uma onça-pintada perto de uma rocha no local. "Salto" refere-se à cachoeira de mais de 30 metros que existe na propriedade, e "Jaguaretê" significa "onça-pintada" em tupi-guarani.
O flagra da vida selvagem
O empresário teve o primeiro contato com a vida selvagem de sua propriedade quando um amigo lhe emprestou uma câmera de trilha, que grava e fotografa automaticamente. Ao instalar o equipamento, Cleonor começou a registrar os animais que viviam na área.
Em 2024, ele adquiriu e instalou suas próprias câmeras em diversos pontos. Cleonor notou que os animais, de diversas espécies, usam preferencialmente a mesma trilha, 24 horas por dia, faça chuva ou sol. Ele observa que eles se revezam, usando a trilha em intervalos diferentes. "A natureza cria o horário para cada uma das espécies?", questiona.
Essa observação o fez refletir sobre a importância de criar trilhas ecológicas para os animais, especialmente em áreas de rodovias asfaltadas. Ele cita o exemplo de uma rodovia na Argentina que possui um túnel para que os animais passem por baixo e outra trilha aérea, feita de cordas, para macacos.
Com as câmeras, Cleonor já conseguiu flagrar diversas espécies em suas propriedades, incluindo famílias inteiras de:
Mamíferos: Quatis, iraras, gatos-do-mato, cachorros-do-mato, cutias, furões, gambás, lebrões, tatus, tamanduás e mão-peladas.
Aves: Pombas, gralhas, sabiás e o Inhambu-chororó.
Encontros na natureza
O empresário conta sobre um momento marcante em que quase pisou em uma cobra-caninana, que parecia um pedaço de pau. Ao identificá-la e saber que não era peçonhenta, ele sentou ao lado e a observou até que ela se embrenhasse na mata.
Nem sempre é tão tranquilo. Cleonor já teve cachorros picados por cobras, e sua filha, Vitória, encontrou uma jararacuçu enorme na estrada. Vitória, que é apaixonada por animais e pela vida selvagem, conseguiu lidar com a situação e conduziu a cobra para dentro da mata, vivendo um momento de muita adrenalina.
A "fonte criadora de vida silvestre"
Cleonor destaca que o local é uma "fonte criadora de vida silvestre" devido à mata preservada do outro lado do Rio Peperi Guaçu e à Reserva Jabuti, na Argentina, que é bastante preservada.
Ele aponta que é difícil ver esses animais no dia a dia, pois eles são ariscos e se escondem ao menor sinal de presença humana. Por isso, ele não imaginava a quantidade de vida que pulsava na propriedade. A única pista de que eles passam pelo quintal do Rancho é o latido de seus cães de guarda — pastores-alemães e borders collies, entre outros.
Futuro do ecoturismo e a preocupação com a caça
O empresário vislumbra a possibilidade de desenvolver o turismo ecológico na região, algo ainda incomum e que, segundo ele, não é percebido pelos governantes como uma atividade de potencial valorização. "A satisfação de compartilhar esse espaço com a vida selvagem é muito gratificante", afirma. Um de seus objetivos é construir cabanas para alugar, focando no ecoturismo e na contemplação da fauna e flora locais.
Apesar dos avanços na conservação, Cleonor expressa preocupação com a caça ilegal, mesmo percebendo uma diminuição nos últimos tempos. "A matança dos animais interfere na biodiversidade", lamenta.
A visão de biólogos
Para a filha de Cleonor, Vitória Mahl, estudante de Biologia, a dedicação do pai é um laboratório vivo e uma inspiração para seus estudos.
Jackson Preus, professor de Biologia da Unoesc de São Miguel do Oeste, ressalta a importância de iniciativas como a de Cleonor.
"O primeiro passo para conservar algo, principalmente recursos naturais como água e florestas, é conhecer o que ocorre em determinada localidade. Conhecer as espécies de animais em uma região traz informações importantes, pois a presença de algumas espécies, que são bem exigentes, mostra que os ambientes naturais estão em equilíbrio e que elas estão encontrando condições adequadas para sobreviver."
Preus explica que a ausência de certas espécies também é um sinal. "Mostra que os recursos não estão ideais e que o ambiente não está em equilíbrio. Consequentemente, espécies mais exigentes, como os felídeos silvestres, são as primeiras a desaparecer. Como eu sempre digo, quem não conhece não preserva, esse é o ponto mais importante", conclui o professor.
Assista: