ACIDENTE AÉREO - 17/04/2023 13:44

Justiça absolve Airbus e Air France por acidente em voo que matou catarinense e 227 pessoas

Deise Possamai foi uma das vítimas no acidente mais letal da história da aviação comercial francesa
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Justiça absolve Airbus e Air France por acidente em voo que matou catarinense e 227 pessoas – Foto: © Aeronáutica/Divulgação

A Justiça francesa absolveu nesta segunda-feira (17) a fabricante europeia Airbus e a companhia Air France pelo acidente do voo AF447 Rio-Paris em 2009, que matou 228 pessoas, entre elas a catarinense Deise Possamai. As empresas foram julgadas por homicídios dolosos.
Quase 14 anos depois da tragédia, o tribunal de Paris absolveu as duas empresas por considerar que, embora tenham cometido “falhas”, não foi possível demonstrar “nenhuma relação de causalidade” segura com o acidente.
Parentes das vítimas, equipes de advogados da Air France e da Airbus e jornalistas lotaram a sala de audiência nesta manhã.
Conforme a AFP (Agência de Notícias Francesa), o anúncio da absolvição levou até alguns presentes a se levantar com surpresa, enquanto o presidente do tribunal continuava sua leitura.

Relembre o acidente

Em 1º de junho de 2009, o voo AF447, que fazia a rota entre o Rio de Janeiro e Paris, caiu no Oceano Atlântico, algumas horas após a decolagem. Os 216 passageiros e 12 tripulantes a bordo morreram na tragédia.
A bordo do avião, um A330 com registro F-GZCP, estavam pessoas de 33 nacionalidades: 61 franceses, 58 brasileiros e 28 alemães, além de italianos (9), espanhóis (2) e um argentino, entre outros.
A catarinense Deise, de 34 anos, foi uma das vítimas. Ela era natural de Nova Veneza, no Sul catarinense, mas morava em Criciúma, onde atuava como fiscal de tributo da prefeitura. Deise havia tirado uma licença de dois anos para ir à Itália.
Este foi o acidente mais letal da história da aviação comercial francesa.

Empresas cometeram “imprudências”

Os primeiros fragmentos do AF447, assim como os corpos, foram encontrados nos dias seguintes ao acidente. Mas a fuselagem foi localizada apenas dois anos depois, após longas buscas, em meio ao relevo submarino, a 3.900 metros de profundidade.
As caixas-pretas confirmaram que os pilotos, desorientados por uma falha nas sondas de velocidade Pitot no meio da noite, perto do Equador, não conseguiram impedir a queda do avião, que ocorreu em menos de cinco minutos.
As investigações demonstraram que vários incidentes com sondas similares aconteceram nos meses que antecederam a tragédia. O modelo da sonda foi substituído em todo mundo após o acidente.
O tribunal considerou que a Airbus cometeu “quatro imprudências ou negligências”, em particular por não ter substituído os modelos de sondas Pitot chamadas “AA”, que pareciam congelar com maior frequência, nos aviões A330 e A340, e por “reter informações”.
Segundo a justiça, a Air France cometeu duas “imprudências”, relativas às modalidades de divulgação de uma nota informativa dirigida aos seus pilotos sobre as falhas das sondas.
Na esfera criminal, no entanto, segundo o tribunal, “uma relação de causalidade provável não é suficiente  para tipificar um crime. Neste caso, por tratar-se de falhas, não foi possível demonstrar nenhuma nexo de causalidade com o acidente”.
Durante o processo, que aconteceu de 10 de outubro a 8 de dezembro, o tribunal ouviu especialistas, policiais, pilotos, autoridades do controle de tráfego aéreo e parentes das vítimas. O processo tentou compreender as reações da tripulação na cabine de comando, assim como o perigo das falha das sondas Pitot.

14 anos de processo

O veredicto gerou grande expectativa, após um longo processo marcado por análises conflitantes dos magistrados.
Embora os juízes de instrução tenham arquivado o caso em 2019, as famílias das vítimas e os sindicatos de pilotos apresentaram recurso e, em maio de 2021, a justiça determinou o julgamento das duas empresas por homicídios culposos.
No final do processo, Ministério Público pediu a absolvição das duas empresas, por considerar que era “impossível demonstrar” sua culpabilidade.
Esta foi uma requisição “que as partes civis não aceitaram, (pois) aponta exclusivamente contra os pilotos e a favor de duas multinacionais”, havia criticado Danièle Lamy, presidente da associação ‘Entraide et Solidarité AF447’ (Cooperação e Solidariedade AF447), que representa os parentes das vítimas.
Durante o julgamento, os representantes da Airbus e da Air France alegaram que as empresas não cometeram nenhum crime. Os advogados pediram a absolvição, uma “decisão humanamente difícil, mas técnica e juridicamente justificada”, segundo a direção da Airbus.


*Matéria da AFP foi editada e acrescentada informações sobre a catarinense Deise Possamai que estava no voo. 
Fonte: ND+
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